Por Karlla Kamylla Passos dos Santos
O exercício de pensar essa fala foi interessante, a mesa ‘Nós nos espaços de memória’ me provocou a me pensar nesses espaços que tendem a sacralizar memórias conservadoras. Não tem como me pensar nesses espaços sem trazer as educadoras, dessa forma me trago também. Sou uma mulher cis, educadora museal e bissexual. E por isso chamei para esse texto e para a apresentação as educadoras que têm essas mesmas características, recorte da minha tese ‘Educação Museal e Feminismos no Brasil: Silenciamentos, Estranhamentos e Diálogos a Partir de um Olhar Interseccional e Decolonial’ (2023). As educadoras que abordarei aqui são 48 respondentes do questionário que apliquei para analisar os marcadores sociais da diferença (HIRANO, 2019) das educadoras museais, de maneira interseccional e decolonial.
No recorte realizado para o presente texto, entre gênero e orientação sexual, são educadoras cis, bissexuais (69%), lésbicas (28%) ou pansexuais (6%). A maioria das educadoras têm entre 20 e 29 anos de idade (48%), seguido de 30 a 39 anos (35%). Em relação a cor/raça, as brancas são 63%, pretas 29% e pardas 8%. Sobre a religiosidade, a maioria respondeu que não é determinada, seguida de múltipla religiosidade e ateísta. Em relação a renda individual de cada profissional, a maioria recebe ‘até dois salários-mínimos’, seguidos de ‘entre dois e quatro’ e ‘entre seis e oito’. Já na renda familiar a maioria soma ‘entre quatro e seis salários-mínimos’, seguido de ‘entre dois e quatro’. Elaborei um gráfico (1) comparativo das rendas individuais e familiares. As educadoras não consideram, na maioria que moram em área periférica. Boa parte das educadoras estava trabalhando no período que o questionário esteve aberto para respostas. Em grande parte, são CLT, servidoras públicas, seguido de estagiárias.
Gráfico 1: Comparativo de renda individual e familiar das educadoras

Fonte: Elaboração da autora a partir das respostas das educadoras. Na cor roxa a renda pessoal e rosa a renda familiar.
A maioria das educadoras não relataram problemas de encontrar emprego devido a sua aparência física, mas dentre as que relataram, uma disse que “Sim! Como pessoa preta, e LGBT, sempre tive dificuldades de ser aprovada em entrevistas de empresas mais sérias. Normalmente, para fugir disso, em processos de seleção, tento me vestir de formas mais neutras” (Relato da educadora). Já na pergunta se já sofreu ou presenciou algum tipo de preconceito/racismo/sexismo/LGBT+fobia… nos espaços em que trabalhou, a maioria respondeu que sim. Uma das educadoras relatou que passou por “Discriminação racial e LGBTfobia por parte de um membro da equipe que, após o ocorrido foi afastado” (Relato da educadora). Dentre outros dados relevantes sobre o perfil das educadoras nos espaços de memória: a maioria não tem filho/a/e; em relação a própria formação, a maioria tem graduação e não tem pós-graduação concluída. A formação de pais e mães, segue a mesma tendencia; a grande maioria das educadoras não tem deficiência; e não participam de movimentos sociais. Dentre as pessoas que disseram participar, cinco são movimentos relacionados a comunidade LGBT+.
Ao refletir sobre esses dados, encaminhando para as considerações finais desse texto-apresentação, trago algumas comparações com os dados gerais das educadoras, especialmente nos contrastes. Os dados gerais das educadoras mostram idades entre 31 e 50 anos de idade, enquanto dentre as educadoras do presente recorte, tem entre 20 e 39 anos. Dentre a religiosidade a católica tem uma predominância de quase a metade da seguinte que é ‘não determinada’. Enquanto no presente recorte as religiosidades mais mencionadas são mais diversas. Dentre o presente recorte, a maioria não tem pós-graduação concluída, já nos dados gerais, a maioria concluiu. E nos dados gerais a maioria das educadoras é servidora pública, já aqui é CLT.
Essas comparações nos fazem conjeturar sobre os motivos que levam a alguns contrastes como de formação e forma de contratação. E podemos ver como as mulheres que tem uma orientação sexual mais diversa apresentam também essa diversidade na sua religiosidade, por exemplo, o que é muito interessante para os espaços de memória.
Referências
HIRANO, Luis F. K. Marcadores sociais das diferenças: rastreando a construção de um conceito em relação à abordagem interseccional e a associação de categorias. In: Luis F. K. Hirano, Maurício Acuña; Bernardo Fonseca Machado (Org.). Marcadores sociais das diferenças: fluxos, trânsitos e intersecções – Goiânia: Imprensa Universitária. – (Coleção Diferenças). 2019.
PASSOS DOS SANTOS, Karlla Kamylla. Educação Museal e Feminismos no Brasil: Silenciamentos, Estranhamentos e Diálogos a Partir de um Olhar Interseccional e Decolonial. Tese. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração, Instituto de Educação. Lisboa, 2023.
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