Por Gabriel Andrade de Freitas

Meu trabalho de conclusão de curso em Museologia pela Universidade de Brasília (UnB) foi a culminação de duas experiências de pesquisa anteriores na mesma temática, como será demonstrado a seguir. O seu objeto central de análise é a Rede LGBT de Memória e Museologia Social e suas repercussões, tendo como problema de pesquisa a análise das repercussões da Rede, entre os anos de 2012 e 2022, na forma das edições da Revista Memórias LBGT+, nos anais do Seminário Brasileiro de Museologia e nos trabalhos de conclusão de curso das instituições federais de ensino.
A importância da realização desse estudo está na observação de como as ações desenvolvidas pela Rede conseguem demonstrar de que forma o campo museológico tem sido impactado por essa integração de pautas sociais, bem como a contribuição para maior visibilidade de narrativas insurgentes.
A importância de realizar pesquisas em torno das redes e sua relação com a Museologia Comunitária se dá no fato de que esse movimento de construção coletiva consegue congregar diferentes subjetividades em torno de um objetivo comum. Essa potência descentralizadora demonstra possibilidades para a constituição de políticas públicas que envolvam as demandas sociais de parcelas historicamente marginalizadas.
Além disso, a escolha temática relaciona-se diretamente com minhas vivências pessoais. Como homem gay cisgênero e estudante de Museologia percebo as ressonâncias da LGBTfobia dentro dos discursos museológicos, principalmente referente a certa resistência em inserir essas narrativas diversas e no aprofundamento da discussão na universidade. Além disso, apesar da previsão legal dispor que a valorização da diversidade cultural e o respeito são princípios fundamentais dos museus, é ainda observado um apagamento histórico de memórias que fujam ao status quo heterocisnormativo, como a da comunidade LGBT.
Efetuei, sob orientação do professor Dr. Clóvis Carvalho Britto, dois PIBICs que contribuíram imensamente na construção deste trabalho. O primeiro (2019/2020), com título “Revista Memória LGBT: Museologias dissidentes e memórias corporificadas”, no qual fui bolsista pelo CNPq, efetuei uma análise qualitativa de onze edições até aquele momento publicadas da Revista Memórias LGBT+, periódico digital de metodologia compartilhada, participativa e colaborativa, idealizado por Tony Boita e apoiado pela Rede LGBT de Memória e Museologia Social, disponibilizado em domínio digital próprio gratuitamente. Dentro dessa análise constatei a forma na qual os textos publicados ao longo das edições abordaram os conceitos de Museologias Dissidentes e Memórias Corporificadas.
No segundo trabalho de iniciação científica (2020/2021), de título “Museologias indisciplinadas e tendências de pesquisa: repercussões da temática LGBT no Seminário Brasileiro de Museologia”, realizei uma análise qualiquantitativa através de metodologia descritiva e exploratória dos Anais do Seminário Brasileiro de Museologia. O objetivo central foi demonstrar a repercussão do discurso LGBT na pesquisa sobre Museologia no Brasil. Os resultados demonstraram que em comparação a totalidade de trabalhos apresentados nesse evento a ocupação da temática LGBT ainda é bastante tímida, apesar de apresentar crescimento na comparação com os anos iniciais. Os trabalhos apresentados no SEBRAMUS demonstram como é necessária a organização do pensamento acadêmico em redes, como a Rede LGBT de Memória e Museologia Social, na qual seus membros se destacam numericamente na apresentação da temática.
Minha monografia possui um caráter qualitativo e exploratório na análise das fontes. Efetivou-se uma revisão de literatura sobre Redes de Museologia Comunitária e Museologia LGBT no Brasil, tendo como estudo de caso a própria trajetória da Rede LGBT de Memória e Museologia Social e suas repercussões.
O procedimento de mapear as repercussões efetuou-se com a pesquisa documental sobre a trajetória da Rede LGBT em consulta aos documentos institucionais, as edições da Revista Memórias LGBT+, as produções dos Seminários nos anais do SEBRAMUS e aos trabalhos de conclusão nos cursos de graduação em Museologia nas universidades federais do país.
A análise sobre os trabalhos de conclusão de curso em Museologia, nos quais a temática LGBT é abordada, é praticada através da pesquisa nos bancos de dados institucionais das universidades federais. Também foi aproveitado o mapeamento previamente construído por integrantes da Rede, contido no artigo “Ensino, Pesquisa e Extensão em Museus e Museologia LGBT+: recomendações Queer à formação museológica”, presente no periódico aqui da UnB, Museologia & Interdisciplinaridade (vol. 11, n. 21).
Os dados coletados são sintetizados através da revisão integrativa. Metodologia ampla, utilizada na análise sobre o conhecimento construído em pesquisas anteriores sobre um tema específico.
As transformações na Museologia brasileira que uma década de existência da Rede LGBT de Memória e Museologia Social conseguiu acarretar é uma demonstração da importância que sua organização tem na efetivação de um futuro livre das amarras estabelecidas pelo pensamento limitado baseado em preconceitos.
Conforme demonstrada pela revisão integrativa efetuada nas edições da Revista Memórias LGBT+, nos anais do SEBRAMUS e nos TCCs relacionados a Museologia LGBT, há um aumento do interesse de pesquisadoras e pesquisadores sobre a temática, uma vez que os números quando não apresentam aumento, demonstram estabilidade.
Além do mais, percebe-se nesses trabalhos de uma forma geral a interseccionalidade das questões abordadas, relacionando as discussões em torno das orientações sexuais e identidades de gênero, com questões raciais e de classe social. É uma demonstração clara da capilaridade que o discurso museológico baseado na Museologia LGBT apresenta, bem como o enriquecimento do discurso a partir da inclusão narrativa de subjetividades indisciplinadas.
A instrumentalização de categorias que foram inicialmente criadas para oprimir, como é o caso do discurso tradicionalista na Museologia, e a transformação paradigmática do mesmo em ferramenta de superação de fobias também é uma demonstração da força que os esforços individuais e a luta coletiva possuem na mudança social e no fortalecimento democrático.



Referências Bibliográficas
FREITAS, Gabriel Andrade de. Revista Memória LGBT: Museologias dissidentes e memórias corporificadas. In: 26º Congresso de Iniciação Científica da UnB e do 17º Congresso de Iniciação Científica do DF, 2020, Brasília. 26º CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNB E 17º DO DF, 2020.
FREITAS, Gabriel Andrade de. Museologias indisciplinadas e tendências de pesquisa: repercussões da temática LGBT no Seminário Brasileiro de Museologia. In: Congresso de Iniciação Científica da Unb e Congresso de Iniciação Científica do DF 27º CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNB E 18º DO DF, 2021, Brasília. Congresso de Iniciação Científica da Unb e Congresso de Iniciação Científica do DF 27º CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNB E 18º DO DF, 2021.
FREITAS, Gabriel Andrade de. REDE LGBT DE MEMÓRIA E MUSEOLOGIA SOCIAL: ANÁLISE DAS REPERCUSSÕES NO CAMPO DA MUSEOLOGIA NO BRASIL (2012-2022). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Museologia). Universidade de Brasília, 2023.
BAPTISTA, J. T.; CASTRO, T.; BOITA, T. W. .; BRAGA, J. L.; VARGAS ESCOBAR, G. .; TEDESCO, C.; GIOVANAZ, M.; BRITTO, C.; WICHERS, C. A. de M.; SILVA, A. P.; YNANHIA SILVA DE FARIA, K. . Ensino, Pesquisa e Extensão em Museus e Museologia LGBT+ : recomendações Queer à formação museológica. Museologia & Interdisciplinaridade, [S. l.], v. 11, n. 21, p. 29–52, 2022.
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